Páginas

quarta-feira, 13 de agosto de 2014


Aprender uma língua é simplesmente fascinante. 

Não somente pelo fato de falar palavras e frases em outro idioma, mas também pelo contato com culturas que permeiam a língua estudada. 

Sempre ouvimos falar da importância de se aprender uma nova língua e dos benefícios pessoais e profissionais que ela pode trazer. 

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Estrangeira dizem que “é indispensável que o ensino da Língua Estrangeira seja entendido e concretizado como o ensino que oferece instrumentos indispensáveis de trabalho” e que permite “um acesso mais igualitário ao mundo acadêmico, ao mundo dos negócios e ao mundo da tecnologia”. 

Tudo isso pode parecer muito interessante para nossos alunos que jogam videogames, assistem a filmes, acessam a Internet, planejam uma viagem, enfim, realizam atividades como qualquer outro indivíduo.

Com o início da Inclusão, passamos a receber, em salas de aula convencionais, alguns alunos que não têm nessas atividades um hobby ou que não compreendem essas diferenças culturais e linguísticas. 

Dentre os alunos inclusivos, vamos destacar um, o Surdo.

Surdo é aquele que sofreu uma perda dos sentidos da audição, podendo ser classificada desde leve até profunda. 

Como há a dificuldade de ouvir os sons, essa deficiência afeta também a fala, dependendo da classificação da surdez. 

A maioria dos que pertencem a essa comunidade comunica-se utilizando a LIBRAS, isto é, Língua Brasileira de Sinais, que tem sua própria gramática, sintaxe, morfologia e fonética. 

Alguns simplesmente se comunicam com sinais domésticos, que a própria família e amigos criam para formalizar uma conversa.

Assim disso, será que é possível levar um aluno surdo a se interessar pela aprendizagem da Língua Inglesa? O que fazer para atrair os alunos surdos? 

Esses são questionamentos frequentes dos professores com esse tipo de aluno em suas turmas, que podem trazer insegurança e medo. 

Reflexões diárias levarão os educadores a deixarem de lado tudo isso.

O professor precisa mudar seu método de ensino. 

O aluno surdo se expressa e aprende as coisas de forma diferente quando comparado aos alunos ouvintes. 

Nós nos acostumamos a incentivar nossos alunos a buscarem a pronúncia perfeita, repetindo as palavras que ensinamos, focando em conversações. 

Tudo isso não faz sentido para surdos porque eles não conhecem os sons das letras, dos fonemas e sílabas. 

Antes, o educador deve pensar que, em compensação à falta da audição, os alunos surdos são muito visuais. 

Por isso, a utilização de figuras facilita muito sua aprendizagem. 

O aluno vai associar a imagem da palavra escrita à imagem do objeto/palavra em questão. 

Esse método ajudará até mesmo o professor que não tem conhecimento sobre a língua de sinais. 

Outro fator importante é a contextualização das palavras. 

O aluno surdo não precisa aprender somente palavras soltas. 

Muitos professores o fazem achando que não poderão extrair um sentido daquilo que leem. 

É exatamente o contrário. Alunos deficientes auditivos interessam-se muito em aprender outra língua. 

O professor deve aproveitar essa característica e preparar sua aula pensando, também, nesses alunos, para que eles não desanimem ou se decepcionem. Softwares educacionais são uma boa pedida.

Esses alunos se sentem muito bem ao manipular um ambiente visual, no qual eles possam interagir. 

No caso de alunos maiores, o professor deve tomar cuidado ao questionar sua forma de escrita. 

Em Libras, a ordem que as palavras aparecem na frase é diferente no português e também na língua inglesa, podendo haver uma dificuldade em compreender a ordem dos adjetivos em relação aos substantivos. 

Muitos educadores acabam confundindo a deficiência auditiva com a mental. As duas não têm proximidade alguma. 

Por conta desse equívoco, acabam deixando de lado a prática da leitura, tanto na primeira língua quanto numa segunda. 

Há muitos surdos que dominam essa capacidade de leitura e escrita tão bem quanto ouvintes, bem como aqueles que já conseguiram sua graduação ou pós-graduação.

Poderíamos parar e refletir: Quem será o incluído? O aluno ou o professor? Na verdade, os dois. 

O aluno por poder fazer parte de um ambiente com pessoas diferentes e podendo se sentir pertencente a ele, o que é um fato. 

O professor, por sua vez, por saber unir-se a dois universos ao mesmo tempo, o do ouvinte e do surdo. 

Educadores precisam estar sempre preparados para estarem nesses universos simultaneamente, com atividades que atendam as necessidades de todos os seus alunos. 

A Língua de Sinais não é o único caminho para esse universo diferente, mas os caminhos são novos a cada dia, seja com imagens, artigos tecnológicos, brincadeiras, leituras, criando várias rotas diferentes para um mesmo objetivo: a satisfação do aluno. 

David Marcelo Pereira Berto é formado em Letras pela Faculdade Anhanguera de Taubaté, Professor de Língua Inglesa, Tradutor/Intérprete de Libras (IMOESC – Caçapava/SP), Coordenador do Programa Línguas Estrangeiras da Planeta Educação – Caçapava/SP.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Primeiros engenheiros surdos do Centro-Oeste formam em Divinópolis

Eles contam como foi estudar com não surdos e conquistar graduação.

Concluir uma graduação é uma conquista para muitos jovens por todo o país. Mas para dois alunos de Engenharia de Produção em Divinópolis, essa vitória é ainda maior. Mariana de Oliveira Ferreira, de 25 anos, e Felipe de Oliveira Ferreira, de 27, são irmãos e decidiram vivenciar juntos também os cinco anos da graduação. Além disso, eles estão fazendo história como os primeiros estudantes com deficiência auditiva a se formarem como engenheiros de produção no Centro-Oeste de Minas, segundo um levantamento da Fundação Educacional de Divinópolis da Universidade do Estado de Minas Gerais (Funedi/Uemg), instituição onde eles formaram. Assim como a maioria dos adolescentes, foi no ensino médio que Mariana decidiu qual seria a profissão após ficar em dúvida quanto a outras graduações. "Pensei em administração, contabilidade, matemática e design de moda. Por fim optei por Engenharia de Produção", recordou. Felipe, ao contrário da irmã, estava decidido quanto ao curso que escolheria. "Não pensei em escolher outro. Até pensei em fazer ciências da computação, mas no final eu queria mesmo era engenharia", afirmou. Segundo a irmã, o apoio da família foi primordial na decisão de cursar o ensino superior. "Na minha família muitos têm curso superior e sempre nos direcionaram nos estudos. Meus pais sempre investiram na nossa educação, pensando em um futuro melhor e na roda dos primos sempre falávamos sobre vestibular e faculdade", contou Mariana. Segundo a professora e coordenadora do curso, Vânia dos Santos Ventura, foi preciso que a instituição se preparasse para receber os irmãos. "Como em toda mudança, também foram enfrentadas algumas dificuldades, todos tiveram que aprender juntos. Houve capacitação dos funcionários e a presença de uma intérprete. Mas acima de tudo, aprendemos e ainda estamos aprendendo muito com eles", informou. Mas para os irmãos, que já haviam estudado em escolas com outros alunos que não eram surdos, essa adaptação transcorreu tranquilamente. "Algumas dificuldades sempre enfrentei, pois tudo é um aprendizado, mas todo o processo foi tranquilo. Eu conversava e aprendia normalmente com eles e todos muito curiosos para aprender a Língua Brasileira de Sinais (Libras)", contou Felipe.


Mariana, Felipe e os colegas de curso visitaram usina de Itaipu durante excursão da faculdade.

Uma das responsáveis por essa adaptação de Mariana e Felipe com a turma foi a intérprete Graciele Kerlen Pereira Maia, que acompanhou os irmãos desde o ensino fundamental até a graduação. "São 12 anos juntos. A história dos dois é exemplo de superação, de sonho conquistado, luta com vitória. Por isso fazem história como os primeiros surdos formados nesse curso no Centro-Oeste de Minas e se tornam grandes exemplos para o reconhecimento dos surdos na sociedade", disse a intérprete com orgulho. Ainda segundo a Graciele, os irmãos nunca foram tratados de forma diferente aos demais colegas. "Disciplinas, estágios, apresentações de trabalho, visitas técnicas foram fornecidos assim como foram oferecidos aos outros alunos. E tiveram facilidades e dificuldades assim como qualquer outro aluno", garantiu. A determinação dos dois logo chamou a atenção da turma, que teve a oportunidade de aprender com os novos colegas. "Foi uma questão de tempo para os colegas e professores que não conheciam bem a cultura deles, conhecerem o nosso meio de comunicação. Mas no final as aulas transcorrem normalmente", afirmou Mariana. Assim, cada período passado era uma vitória para a dupla que estava acostumada a encarar os desafios desde pequenos. "Esta etapa com meu irmão foi como as outras. Estudamos juntos, conversas sobre as matérias. Sempre tivemos esse companheirismo, como acontece com irmãos. Às vezes até mesmo com algumas discussões", brincou Mariana. Sentimento compartilhado pelo irmão. "Desde pequeno estudamos juntos e foi muito bom estudar com ela na faculdade", acrescentou Felipe. Não foi só a presença na vida um do outro que fez a diferença. Para Vânia, a presença dos dois alunos com deficiência auditiva foi enriquecedora para a instituição e acrescentou uma nova visão ao curso. "Criamos sinais para os termos da engenharia de produção, empresas se adaptaram para receber os dois como estagiários, professores adequaram suas aulas trazendo materiais visuais. A principal mudança foi a conquista do respeito pelo sujeito surdo e a certeza de que hoje nós estamos mais preparados para recebermos alunos como os dois", argumentou a coordenadora. Cinco anos depois de iniciar a graduação, chegou a hora da formatura e a responsabilidade de se tornar um engenheiro de produção. Uma etapa que os irmãos se dizem preparados para encarar. "Essa formatura é um momento muito importante na minha vida. Repleta de desafios, ensinamentos, dedicação, luta, estudo, momentos de dificuldades, alegrias. É um crescimento de uma vida pessoal e acadêmico", disse Mariana. Também de novos desafios no mercado de trabalho. Felipe disse estar preparado para estudar as propostas que apareceram, assim como Mariana. "Ainda não recebi propostas para trabalhar após a formatura, mas fui contratada por uma empresa como jovem aprendiz. Acredito que posso ser contratada na minha profissão com concursos", disse a jovem. Para que consigam se firmar no mercado, os irmãos contarão com a torcida não só da família, mas também de quem os acompanhou de perto ao longo da graduação. "Desejo a eles muito sucesso. Tudo que eles passaram é pela a concretização de um grande sonho, uma prova de como cresceram com toda essa trajetória. Seja qual for o caminho que eles trilharem, confio que conquistarão ainda mais vitórias. Jamais me esquecerei deles, porque eu os amo", declarou a intérprete Graciele.


 É muito importante ter conhecimento de uma notícia como essa. Essa felicidade tenho certeza que foi sentida de um modo bem maior nesta comunidade tão rica quanto aos dos surdos. Alcançar tal feito é uma realização grandiosa e surti efeito motivador em outros surdos, (ou mudos, ou cegos) para que eles possam sempre seguir em frente.   

Fonte. Disponível em: <http://g1.globo.com/mg/centro-oeste/noticia/2014/01/primeiros-engenheiros-surdos-do-centro-oeste-formam-em-divinopolis.html